quinta-feira, 28 de julho de 2011

O herói de todos, o velho que não conhecemos...

Hoje de tarde, lembrei que era o último dia para pagar umas contas, caso perdesse o prazo, pagaria uma multa. Saí rapidamente de casa peguei um ônibus e logo em seguida um moto-taxi, para chegar ao trabalho do meu pai e pegar meu carro, que dentro dele estava a conta e o dinheiro. Tive que fazer isso tudo muito rápido pois já era por volta de 4 horas e as casas lotéricas fechavam as 5, pois bem pegando o carro sai dirigindo rapidamente até o local, pensei ser mais um dia daqueles comuns, típicos e rotineiros. Chegando as casas lotéricas sinto dificuldades de estacionar o carro e já fico nervoso, pensei; "não é possível com tanto prédio antigo sendo destruído pra dar espaço pra estacionamento em Teresina..." e olhando pro relógio pensava; "essa sociedade pós-industrial do relógio um dia ainda me mata", em seguida procuro as 3 contas e meu dinheiro... Mais um acesso ao nervosismo, vejo que calculei errado o dinheiro e que só dava pra pagar uma das contas, e me sobravam algumas moedas de 1 real, então pensei nervoso "Não é possível que vá me faltar dinheiro pra pagar essas míseras contas, não acredito "@#%4!!@*&". Desci do carro muito irritado e logo vejo uma fila relativamente grande, e apenas duas cabines funcionando, e escrito de todo tamanho "FILA ÚNICA", entretanto enquanto eu e mais algumas pessoas esperavamos na "verdadeira" fila, outras pessoas espertamente esperavam em outra que não deveria existir, entretanto era menor. Muito irritado com aquela situação, fiquei calado, mas sentindo uma irritação profunda me pairar a pele, e uma raiva, raiva gigantesca, raiva do trânsito que tinha pego, raiva da falta de dinheiro, raiva do dia do vencimento, raiva da fila, raiva das pessoas, raiva da cara dos atendentes da loteria, com cara de "puta merda, eu tenho que atender esses otários", então surge um senhor de idade, de pele escurecida, queimada pelo sol, com um cabelo grisalho com a cor de fumaça de caminhão a diesel, uma barba e um cavanhaque da mesma cor muito mal feitos, e com a impressão se sujeira, e mal cheiro, uma roupa suja, mas segurando religiosamente uma sacola pequena num formato quadrado na mão, e algumas moedas que observando vi que eram no máximo de 50 centavos. Este senhor entrou na fila das pessoas que estavam me irritando por não estarem no local correto, embora na hora eu não tenha percebido isto, estava mais impressionado com os pés e os olhos daquele Senhor... Os pés pareciam... terem se fragmentado,(Talvez tão fragmentados quanto gostam os pós-modernos) sujos, unhas quebradas, os chinelos despedaçados, e o olhar... Que olhar era aquele? Que trazia sofrimento... Sangue... Ausência de respostas... Conformação obrigatória... embora mantivesse a aparência interior sufocada por um ar de sabedoria e paciência... Fora uma experiência única aquele olhar. Ao observar aquele conjunto de coisas em relação aquele velho, esqueci-me de minha raiva ao mundo, e  todos. Então uma mancha no chão eu percebo nas Casas Lotéricas, logo pensei; é brincadeira como nem ligam pra limpar este local... O velho deve ter pensado; Uma moeda no chão, sim a mancha era arredondada, de muito longe, ou com uma visão gasta pela idade junto com uma grande necessidade poderia se pensar que fosse um dinheiro, então "rapidamente" em suas condições o velho abaixou-se para pegar a "moeda" e nada... A quilo soou para mim como uma triste metáfora de uma vida quase inteira, o seu olhar me dava esse pensamento. Me senti controlando uma lágrima. E senti um remorso por todos os meus sentimentos anteriores. Então chegou a minha vez no caixa, desconcentrei um pouco de mim e do próprio velho, que para minha surpresa aparecera atrás de mim (acho que ele mudou de fila). Ao pagar a conta me sobraram as tais moedas de um real na mão. Resolvi deixar uma no balcão de propósito para analisar a reação do velho... Então fui saindo de repente... "Jovem!..." Virei-me lentamente... e respondi "Senhor...?" com uma voz de quando tenta-se disfarçar muito bem um desconforto... o velho me falou "Esqueceu o seu dinheiro, pegue..." então peguei meu dinheiro e fui embora... Segundos demoraram esta ação. Porém não conheço aquele velho, nem sei nada de sua vida, somente tentei ler o seu olhar na hora que me devolveu o dinheiro, que dizia "Tive tantas oportunidades de me dar bem na vida e não as fiz rapaz, por causa de meus príncipios, não será uma moeda de 1 real que irá me fazer mudar depois de velho, mesmo você me vendo muito necessitado..." naquele momento em milésimos de segundo me fui tentado a dizer "pegue fique para o senhor", mas isso seria uma enorme demonstração de quanto não entendi a mensagem de um herói. A ação, e aqueles olhos estavam com mais cara de querer mostrar dignidade, e sua busca embora as vezes, pareça ser "inútil" essa busca em uma sociedade que aplaude tudo que for imoral, tudo que for falso, mentiroso e forçado, porém que mantenha a aparência, ou a maioria. Realmente aquele velho ia na contramão da sociedade, é preferível isso do que simplesmente necessitar ficar com 1 Real,(e este 1 Real as vezes são tantas coisas em nosso dia-a-dia... Bom... foi hoje e talvez aquele velho que me abrira os olhos, para esta importante idéia, A DIGNIDADE tão querida e tão negligenciada...
Ao Herói de todos, mas que talvez nunca conheceremos... desconhecido por mim, conhecido como "velho"...  

quarta-feira, 27 de julho de 2011

A minha poesia

por enquanto não se fez.
vai se fazendo, não tendo vez.
não serve pra libertar lendo,
não serve para deixar angustiado a chorar;
serve pra te aprisionar.
as vezes serve pra deixar revoltado,
na minha poesia pouco tem de angústia,
tem mais concreto, pedra e asfalto;
parece mais um bêbado, vencido e caído
falando de algo que ninguém quer dar ouvidos
a minha poesia serve pra mostrar
tudo e ao mesmo tempo nada.
pra ser flecha, arco e ferido morto na calçada.
pra demonstrar que o que eu sinto
não tá valendo quase nada...
e que o dinheiro vai comprando o sangue.
pelo adentrar dos bailes pela madrugada,
serve pra me mostrar de besta, ou vagabundo
serve pra mostrar a minha egoísta volta ao mundo
serve pra dizer a todos que não serve pra nada
e de tudo que conseguir escrever
eu sou bem mais profundo...
e bem mais molhado que a água...